terça-feira, 15 de outubro de 2013

Construindo sororidade

Sororidade é apoio mútuo, compreensão e irmandade entre mulheres. Parece um conceito simples que deveria existir desde as melhores amigas do jardim de infância, mas fomos ensinadas que mulheres são invejosas e traiçoeiras. Ficou muito difícil enxergar outras mulheres como irmãs.

Mesmo dentro da luta feminista, na minha perspectiva pessoal percebo que muitas questões básicas ficam para trás. Lembro quando a Gizelli me mostrou a palestra no TED sobre feminismo, feito por Tavi Grevinson, uma garota de 17 anos e que já tem uma revista, a Rookie Mag. Nessa palestra, Tavi mostra no slideshow um desenho seu que gostaria de nunca ter esquecido:


Feminismo não é um livro de regras! Feminismo é uma discussão! Uma conversa! Um processo!

Feminismo é uma conversa. Sororidade também. Se feminismo é construído aos poucos, com interseccionalidade, discussão e troca de experiências o mesmo deve acontecer com a sororidade. Feminismo é um processo. Irmandade e compreensão são processos, como sororidade.

Se atitudes inerentes a algumas mulheres são feministas, muitas atitudes inerentes a alguns grupos de mulheres (como, por exemplo, proteger umas às outras de opressores) são atitudes cheias de sororidade. O problema é que não se deve permitir que sororidade seja só o que carregamos conosco desde sempre. Sororidade deve ser construída, aperfeiçoada, trabalhada, para que não se restrinja à experiências de vida não-interseccionais. 

É natural que nos identifiquemos melhor com mulheres semelhantes a nós: de nossa mesma classe social, cor da pele, etc. É normal, mas não é aceitável que a luta siga dessa forma. Feminismo e sororidade não andam juntos sem empatia. E, pessoalmente, não acredito que o feminismo siga em frente sem apoio mútuo entre mulheres. 

"Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.": a ideia do apoio mútuo, em que as mulheres fortalecem umas às outras e se empoderam ao mesmo tempo. Isso não pode ser feito se não houver reconhecimento de opressão e privilégios. Por exemplo: eu, como mulher branca, cis e de classe média, devo reconhecer que sou privilegiada diante de uma mulher trans* negra e pobre, e devo ter empatia por ela. Ainda que eu discorde de alguma de suas falas, eu a respeito, pois tenho empatia e reconheço as relações de poder que existem entre nós. Isso não significa calar-se diante de discordâncias, mas sim lembrar que antes de existir uma pessoa que está falando algo que você não concorda, existe uma mulher com infinitas complexidades diante de você.
"Sermos mulheres juntas não era o suficiente.  
Éramos diferentes.
Sermos garotas homo juntas não era suficiente. Éramos diferentes.  
Sermos negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes.  
Sermos mulheres negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. 
Sermos sapatas negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. 
Levou um tempo para percebermos que nosso lugar era não a segurança de uma diferença em particular, mas a própria casa da diferença." - Audre Lorde

Em resumo, a ideia é não permitir que sororidade seja um conceito cômodo que signifique que somente mulheres, brancas, cis, de classe média ou instruídas mereçam apoio. Expandir o sentimento de irmandade e solidariedade entre mulheres a todas as mulheres, não só aquelas com quem você convive. Muitas vezes é difícil enxergar além do nosso mundo particular (frequentemente repleto de privilégios) e isso também se acontece dentro de contextos libertários. 

Sororidade não é uma obrigação, e nenhuma feminista vai conseguir praticar sororidade com todas as mulheres do mundo. Mas é um exercio que pessoalmente recomendo, porque me foi de crescimento pessoal muito grande, e ainda tenho muito o que aprender, assim como todas nós temos. como o feminismo é sempre um processo e sempre uma conversa, nós nunca vamos parar de aprender e crescer umas com as outras.

E não existe 
coisa mais linda do que isso. 

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